sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ah... o Amor, o Amor? Uma análise comportamental do "Amor Platônico"

Atendendo a pedidos falarei hoje sobre o Amor, lembrando que este texto não tem a função de esgotar o assunto sobre este tema mas ilustrar o que o autor até o momento baseado em seus estudos e experiências tem a falar sobre o tema.
E para me ajudar eu conto com a linda música da Rita Lee: Amor e Sexo.



Amor E Sexo



O Título da música já sinaliza sobre o que será defendido, a natureza do amor e como ele é diferente do sexo.

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...

O Autor inicia comparando estímulos com propriedades para ele semelhantes para evidenciar a diferença: Livro e Amor, Esporte e Sexo, Sexo e Escolha, Amor e Sorte.

O Amor para o autor parece ser relacionado a algo sério e responsável e que é muito difícil de encontrar e manter, já o sexo é como uma brincadeira, e que sempre se pode escolher.
Ele retoma isso na estrofe seguinte.


Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..


Ele reafirma a distinção relacionando o amor agora ao Pensamento, ou seja, a comportamento governado por Regras, ao Comportamento Verbal, diferenciando do sexo que é governado pelas contingências.
(Provavelmente de reforçamento positivo).
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...

Novamente o amor relaciona sexo com comportamento “livre”, ou seja, de reforçamento positivo, sem a presença de regras ou contingências aversivas.
“O amor é prosa” um estilo literário sem ritmo ou métrica em que são escritos a maioria dos textos informativos como, por exemplo: artigos filosóficos, científicos, leis, etc.
“Sexo é Poesia” estilo literário que se utiliza de sua estrutura para eliciar sentimentos.

O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...


Além de forçar uma rima, aqui o autor começa a dar indícios de suas experiências provavelmente de decepção e sofrimento em relação a amar. Quando se ama geralmente se está sob controle de estimulações relacionadas às qualidades do outro e costuma-se omitir os estímulos relacionados aos defeitos. O que geralmente acaba nos levando a uma punição muito maior em longo prazo.

Já o sexo é relacionado à Epilepsia, uma doença que basicamente consiste em convulsões descontroladas, só que de prazer provavelmente se referindo ao orgasmo.  


Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!


Neste lindo refrão ele volta a reafirmar a diferenciação criando uma vasta classe de estímulos com a mesma propriedade:

Amor
Sexo
Cristianismo
Paganismo
Latifúndio
Invasão
Divino
Animal
Bossa Nova
Carnaval



Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...


Neste trecho ele relaciona amor com eternidade, qualidade presente na classe de estímulos do cristianismo e do platonismo assim como perfeição e o bem. Ele também relaciona o sexo com a eternidade, embora que relacionando ele ao bom, ou seja, o prazer o mundo sensível, das sensações.


Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...


Aqui o autor explica que o amor sem sexo é amizade, ou seja, Ágape, enquanto o sexo sem amor é vontade entendido como comportamento sob controle de contingências de reforçamento positivo (primário).

É possível também deduzir dessas premissas que uma relação para ser classificada culturalmente de “Amor Romântico” precisa combinar o Amor com o Sexo, ou seja, toda a classe de comportamentos governados por regras do amor e o comportamento reforçado por contingências de reforçamento positivos do sexo (ou Erotísmo).

Amor é um
Sexo é dois
Sexo
 antes
Amor depois...


Este trecho deixa ainda mais claro que o autor se refere a comportamento governado por regras quando se remete ao amor, pois o comportamento  governado por regras não é mantido pelo produto da ação do organismo como reforço natural, mas mantido pela cultura que reforça arbitrariamente o se comportar daquela forma. Isso neste contexto amoroso, remete a pessoas pouco “sensíveis ao outro” e mais “sensíveis ao que ela acha sobre o outro”, ou do que “deveria ser”.
Já o comportamento sexual necessariamente depende do reforço natural, não dá pra manter uma relação sexual baseado em idéias, sem se estimular nos órgãos sensoriais, dentre eles o aparelho reprodutor.

Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...


E conclui o autor neste último verso que o sexo por ser mantido por contingências de reforçamento diretas e naturais, quando perde a função reforçadora, tende a diminuir e acabar naquele relacionamento. Enquanto que o amor por pertencer a uma vasta classe de estímulos é fortalecido pela cultura, sendo de difícil extinção.

REPETE REFRÃO


Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!


Aqui ele de forma cômica diz que seria possível continuar indefinidamente apontando estímulos funcionalmente semelhantes ao amor e sexo e diametralmente opostos da mesma forma.

Skinner em questões recentes na análise comportamental diferencia primeiramente o amor entre o que é sentido (ou estado) e o Amor como ato (Amar): 

E os subdivide em três sub-tipos: 


Eros, ou amor sensual ligado a sexualidade e questões filogenéticas,

Filia, ou amor aprendido nas relações individuais ligado a Ontogênese, 
e Ágape, ou amor universal ligado a Sociogênese ou Cultura. 
O primeiro tipo deriva de nosso código genético, que estabelece estímulos de cunho sexual e sensuais (toque, carinho, afagos, beijos) como poderosos reforçadores para quaisquer classes de comportamentos que os antecedam. De certa maneira todos os outros tipos de amores derivam do amor Erótico. O Amor Erótico não necessariamente implica em relações sexuais propriamente ditas (coito, masturbação, etc), mas pode ser exemplificado pelo carinho dado por uma mãe a seu bebe como forte reforçador incondicionado,  um abraço carinhoso em um amigo, etc. 
O amor Filiáco é aquele derivado de nossas relações "a posteriori", ou como nos modificamos em relação ao contexto em que vivemos. Graças ao Amor Erótico tendemos a emitir uma gama enorme de comportamentos que são inevitavelmente reforçados por aqueles reforçadores incondicionados. Além disso diversos estímulos são emparelhados a aqueles reforçadores tornando-se eles próprios reforçadores de segunda ordem como por exemplo, palavras, expressões faciais, gestos (dar presentes), etc. Este tipo de amor implica necessariamente na relação de mútuo reforçamento, é o reforçar aqueles que nos reforçam com as devidas ressalvas como esquema de reforço intermitente, resistência extinção (ver mais adiante). 
O Amor Ágapico é a descrição que fazemos sobre os comportamentos de Amar e transmitimos através da cultura, ele aumenta ainda mais a variabilidade dessa classe complexa. 
Como Skinner observou durante toda a sua obra, existem muitos substantivos que na verdade são verbos "substantivizados", ou seja, o Amor seria o Amar.


E o que diabos vem a ser o Amar?

O Amar como entendido pela cultura, se refere a uma extensa classe de comportamentos de primeira e segunda ordem, que consistem principalmente em reforçar positivamente o comportamento de outra pessoa e obter reforço por isto.

Por exemplo:

Luiz diz que ama Bruna. Ele pensa vários momentos de seu dia na Bruna, na presença dela sente certas mudanças em seu organismo como sudorese, taquicardia, calor, compra presentes para a Bruna, diz coisas belas para ela, etc.

Ele então classifica toda essa classe de comportamentos chamando isso de amar. Ele faz isso pois, desde sua mais tenra infância ele é submetido a uma cultura que reforça diferencialmente o seu nomear a diversas outras classes de estímulos ligados a diversos assuntos como amor fraterno, amor materno, amor incondicional, amor de personagens mitológicos, a história de vida de diversas pessoas ditas amorosas, etc.


Separei aqui uns trechos de uma música do Legião Urbana que procura definir o que é o Amor.


O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
(...)
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.
(...)

A partir destes discursos transmitidos pela cultura  é criado no sujeito um conceito diversificado do que é o amor, e se comporta muitas vezes sob controle deste conceito e não das contingências vigentes.

Muitas vezes a Bruna que ele "ama" não existe na realidade como ele a concebe, mas é em grande partes um mosaico formado pelo que ele vê dela juntamente com todo o conceito sobre o que é ser uma "mulher a se amar"

Isso é o que a cultura chama de Idealizar Alguém.

Este exemplo que dei é algo próximo ao que é conhecido por Amor Platônico.

O que diferencia o amor platônico de um amor romântico é que no Platônico, a pessoa amada não tem quase nada de semelhante  funcionalmente ao conceito que o sujeito ama. A grosso modo a pessoa com amor Platônico ama o conceito da pessoa e não a pessoa.

Por fim o Amor Romântico visa um equilíbrio entre esse comportamento de amar baseado no conceito construído na relação com a cultura e o amar baseado no reforçamento positivo do ser amado.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Esquema para facilitar o estudo do Controle de Estímulos

Olá leitores, montei esse quadro fechando todos os tipos de operações, procedimentos e produtos dos treinos para formação de classes de equivalência na área de pesquisa da Análise Experimental do Comportamento chamada Controle de Estímulos.

Aproveitem:


domingo, 18 de março de 2012

Última palestra dada por B.F. Skinner na APA

Vídeo em que B. F. Skinner é premiado pela American Psychological Association no dia 08 de Outubro de 1990, 10 dias antes de seu falecimento em 18 de Outubro de 1990.