segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Evidências de que Ver e Ouvir são Comportamentos Operantes

Assista o vídeo abaixo, e escreva (ou memorize), qual fonema você ouviu primeiro.



Assista agora novamente só que de olhos fechados.



Você notou alguma diferença?



Se sim, provavelmente da primeira vez, ao assistir e ouvir você (assim como eu) teve dificuldade de distinguir qual fonema era (algo entre o TÁ ou DÁ), mas quando repetiu a experiência com os ouvidos tampados pode escutar claramente o BÁ.

Mas como isso acontece, o que explica esse estranho fenômeno?

Bolei uma possível explicação baseada na Análise do Comportamento.

Segundo os princípios básicos de análise do comportamento e inúmeras experiências na área, o que costumamos chamar de "Sentidos" são na verdade comportamentos de nossos organismos em relação ao ambiente também, e não apenas "Janelas" ou "Inputs" passivos como dizem algumas teorias mentalistas.

E como todo comportamento, o comportamento de ver e ouvir, é um sistema de relações complexas entre estímulos respostas e consequências.

Primeiramente precisamos entender o conceito de visão e a mesma lógica se aplicará a todos os outros.

A Visão, pode ser decomposta em dois comportamentos básicos, ou duas relações comportamentais diferentes: O Ver e o Olhar.

O Comportamento de Ver, é um comportamento do tipo respondente, sendo inato de todos os organismos com olhos. Ele basicamente é um reflexo em relação a luz refletida no olho, sendo dessa forma que as "Imagens" são os produtos dessa relação.

O nosso comportamento de "Ver" é muito similar ao comportamento de uma Câmera Fotográfica, ficando a unica diferença em que não armazenamos o mundo externo interiormente, mas o reproduzimos a cada nova relação.
Com o tempo essas "Imagens" produzidas pelo comportamento respondente, passam a fazer parte de relações operantes, tornando elas próprias estímulos condicionados (Eliciadores, Discriminativos, Condicionais, Operações Motivadoras, e até mesmo Estímulos Reforçadores e Punitivos).

Dentre esses comportamentos está o comportamento de olhar que é o operante visual sobre controle do respondente de ver. A partir de então as consequências passam a selecionar somente aquelas respostas visuais que produzem consequências reforçadoras para o organismo. Passamos a ver com maior probabilidade aquilo que "conhecemos", ou somente aquilo que "Nos agrada".

Um bom exemplo disso são os desenhos ambíguos que tradicionalmente foram utilizados pela teoria da Gestalt.




O produto desses operantes em si também tendem a entrar em outras contingências mais complexas ainda, como pré-correntes, e assim por diante.
Outro fenômeno interessante que antes da Análise do Comportamento e de Skinner era explicado com mentalismo puro, era o comportamento de Imaginar. Antigamente (e hoje em dia incrivelmente) as pessoas acreditavam que a imagem era capturada pelo olho e gravada em algum lugar do cérebro (ou da mente) de onde era recapitulada para a reutilização. O mais engraçado era que, mesmo com essa explicação, também chamada de teoria da cópia (pois era feita uma cópia do mundo dentro da pessoa), ainda assim não se explicava, realmente ainda o que era a visão.
Após a teoria Skinneriana porem uma extensa gama de fenômenos envolvendo os sentidos puderam ser estudados e realmente explicados e dentre eles o chamado "Ver na Ausência da Coisa Vista" ou "Imaginar".

Para Skinner, o imaginar, ou seja, construir uma imagem "Mental" na ausência da coisa imaginada, nada mais era do que o próprio comportamento operante de ver, sendo evocado por estímulos antecedentes (a situação de privação afetiva que torna mais provável imaginar sua Namorada por exemplo) mas na ausência do estímulo reforçador visual (assim como um rato consegue apertar uma barra sem a apresentação dos estímulos reforçadores imediatamente em esquemas intermitentes de reforço).

Uma teoria simples, mas a meu ver destruidora do modo pré-cientifico que entendiamos a visão.

O Imaginar seria então somente um Olhar (Operante) em esquema intermitente de reforçamento (a coisa vista).

Entendendo o comportamento de Ver (Reflexo) e o de Olhar (Operante) podemos estender a explicação a todos os outros sentidos: escutar/ouvir, tatear/sentir, farejar/cheirar, saborear/sentir gosto.

E o que essa explicação toda tem a ver com o vídeo?

Bem precisava explicar resumidamente a teoria Behaviorista Radical dos Sentidos para poder explicar o que controlou o meu e o seu comportamento diante desse experimento.

Primeiro:

Ocorreu tanto em você como em mim um fenômeno chamado concorrência entre operantes, dentre eles estavam o Ouvir e o Ver.

No fenômeno de concorrência dois comportamentos excludentes acontecem ao mesmo tempo, sendo que aquele que estiver em uma contingência de reforçamento mais forte (com maior densidade de reforçamento e custo de resposta menor) acaba superando o outro e sendo o comportamento emitido.

Ocorre porém, que em algumas contingencias concorrentes, os dois operantes acabam sendo emitidos ao mesmo tempo e se misturando (talvez por seus componentes mais moleculares não serem exatamente concorrentes).

Ao vermos o cara do vídeo movimentar seus lábios como que dissesse a silaba "Dá" tendemos a emitir privadamente o operante verbal "Dá" (Operante), pois esse é o controle de estímulo visual em vigor. Mas ao mesmo tempo ouvimos o estímulo auditivo "Bá" (Respondente), que é distorcido pelo operante visual "Dá" em um evento de concorrência.
Mas quando eliminamos o estímulo visual, a distorção some e podemos ouvir claramente o fonema "Bá".

Se os sentidos fossem apenas "Imputs" e "Outputs" não faria sentido esse fenômeno, pois receberíamos objetivamente os estímulos pelos órgãos dos sentidos que os armazenariam individualmente.

Fascinante não?

Até a próxima!

Referências

Um bom artigo sobre o tema:

http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n2/a03v18n2.pdf

2 comentários:

  1. Os comportamentos de ver e ouvir são controlados por contingências das mais variadas! O comportamento de ver e ouvir, portanto, estão sujeitos à controle de estímulos!!!
    Você pode ouvir um professor dando determinada explicação, concordar com tudo. Mas se alguém lhe perguntar "o que foi dito?", não é de estranhar a resposta "não sei!". Isso quer dizer que o ouvinte não discriminou qualquer palavra dita. É o popular "ouviu, mas não escutou". É necessária uma contingência para que as palavras sejam discriminadas ("ouvidas e escutadas").
    Assim, olhos e ouvidos enquanto estruturas intactas do organismo são apenas pré-requisitos para ver e ouvir, respectivamente.
    Filmes exploram isso: em "perfume de Mulher", um cego vê mais do que muitos com olhos intactos poderiam ver. E em "Adorável ms. Holland", seu filho, que é surdo, mostra-lhe que ainda assim é possível "ouvir" música.
    Oras, para Skinner comportamento é tudo o que o organismo faz e são necessárias contingências para que o comportamento seja emitido. Ver, ouvir, sentir, pensar, sonhar... são coisas que o organismo faz. São comportamentos e, assim, sujeitos aos mesmos princípios!

    ResponderExcluir
  2. Concordo plenamente Bianca.

    Obrigado por comentar no blog, volte sempre!

    ResponderExcluir