quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Como se desenvolve o repertório humano? Parte 1 Filogenese

Escrevo este série de posts para alguns amigos que gostaria de entender melhor a forma como os analistas do comportamento entendem o desenvolvimento da personalidade, ações e subjetividades humanas. Começarei com a parte que os críticos dizem que não reconhecemos, ou seja, a variável biológica.

As Variáveis Biológicas do Comportamento ou Filogenéticas
Para isso primeiramente devo ser claro sobre nosso posicionamento Darwinista, ou seja, nossa explicação é totalmente compatível com a ciência acumulada principalmente com a teoria da evolução por seleção natural em que:
A)     Acontece “Variação” em nível fisiológico e anatômico nos organismos devido ao:
1         – Processo de reprodução sexual que recombina o material genético dos pais em praticamente infinitas possibilidades.
2         – Variáveis ambientais que provocam mutações no material genético a ser recombinado (por exemplo, radiação, alimentação, etc.)
3         – A formação natural de variação em função da recombinação de genes ser um processo complexo gerando assim “aleatoriedade” ou “caos” natural.
B)      Esse organismo então passa a se relacionar com seu meio ambiente mutável, agindo:


1 – Em relação ao próprio ambiente físico;
2 – Em relação a membros da mesma espécie;
4         – Em relação a membros de outras espécies;

Sendo que o exemplar que conseguir sobreviver até a idade reprodutiva neste ambiente altamente competitivo e se reproduzir, passará seus genes adiante em outro exemplar da mesma espécie, embora que com o material recombinado como no primeiro nível. Esse mesmo ambiente em que o organismo está se relacionando tende a mudar devido a n causas, como a ação dos organismos vivos sobre ele, mudanças astronômicas como mudança do eixo Terrestre, mudanças metereológicas (como secas, eras glaciais, inundações, mudanças climáticas, etc.) e geológicas (terremotos, erupções vulcânicas, derivas continentais, formações de ilhas, a separação dos continentes, etc.).
Essas alterações tendem a agir selecionando determinadas características de organismos que melhor se adaptam ao novo sistema ambiental, aumentando assim a probabilidade destes exemplares sobreviverem gerando a SELEÇÃO se reproduzirem e diminui a probabilidade dos menos adaptados de sobreviverem e se reproduzirem levanto a EXTINÇÃO.

Resumidamente dizemos que o ambiente seleciona os organismos mais adaptáveis, e extingue os menos adaptáveis. É um fenômeno tão incrível e difícil de observar porque acontece em gerações de organismo e não individualmente, uma espécie que antes era dominante pode ser extintas em poucas gerações por uma variação de si mesma em um contexto ambiental.
Este é o processo que deu origem a todas as espécies de organismos vivos deste Planeta, como plantas, animais, fungos, vírus, bactérias, eu e você.
Ele é o responsável também por selecionar e transmitir os repertórios de sobrevivência mínimos para o organismo vivo, como comer, beber, respirar, se movimentar no espaço, etc.
Imagine só se precisássemos aprender a comer?

Morreríamos certamente.

Outra característica biológica que foi transmitida para a maioria dos organismos vivos, se não todos os existentes hoje em dia, é a capacidade de aprender novos padrões comportamentais em sua história única de vida e não unicamente limitado a surgir por seleção natural.
Os organismos vivos, não se sabe ao certo a partir de qual período geológico passaram a aprender com as conseqüências de seus atos, de uma formula mais precisa, as mudanças ambientais idiossincráticas passaram a selecionar variações comportamentais de organismos vivos, que os ajudassem a sobreviver e chegar a idade reprodutiva.
Mais que isso, a estrutura anatômica e fisiológica do organismo individual passou a ser alterada pela seleção ambiental armazenando assim as mudanças que tornavam mais ou menos provável dele se relacionar de tal e tal forma com o ambiente:
- Físico;
- Social;
- Relacional (Simbólico).
Outra coisa extremamente importante que a seleção natural nos dá enquanto organismos vivos é a sensibilidade a certos eventos ambientais ou estímulos (SR+; SR-, P+, P-) que selecionam nosso comportamento como: comida, água, sexo, contato tátil, visual, olfativo; e a sensibilidade a certos eventos que aumentam ou diminuem a eficácia dos estímulos ou Operações Motivadoras (MO).
E por fim nossa capacidade simbólica (ou seja de estar sob controle de estímulos complexos) que evoluiu juntamente com a linguagem.
Antes de mais nada porém devemos reconhecer que hoje conhecemos outros mecanismos de evolução que não a seleção natural como a “epigenética” e a “exaptação” e como isso influênciará nossa interpretação de como se forma o repertório comportamental de cada organismo vivo e de uma espécie além de sua cultura.
De uma forma simples: Epigenética é a “pequena” embora não inexistente capacidade do DNA e do RNA de se alterarem não somente no processo recombinatório da reprodução, mas durante a própria vida do organismo e a modificação ser transmitida para os descendentes deste mesmo organismo. Um exemplo disso são os roedores viciados em cocaína que ao se reproduzirem tornaram seus filhos com uma pré-disposição maior a viciarem, viciando mais rapidamente do que eles próprios inicialmente.
Já a Exaptação ou Sprandel é algum padrão anatomo-fisiológico-comportamental, surgir por forma não de seleção direta, mas da soma de outras características que “coincidentemente” juntas formam este padrão que é então selecionado.
Um exemplo de Exaptação são as Asas de Insetos como os Besouros que surgiram em um processo de seleção natural para serem partes do sistema respiratórios, mas que por acidente possibilitaram os primeiros vôos que foram uma vantagem enorme sobre outros que não sabiam voar e ai a seleção natural vem melhorando essa característica até hoje.
Conclusão da primeira Parte
Vimos que a análise do comportamento reconhece os processos da evolução das espécies que são Seleção Natural, Epigenética e Exaptação.
Vimos que o próprio comportamento e a predisposição para ser modificado pelas conseqüências são características selecionadas nesse nível anterior, são como Garras, Presas, Asas, Cérebro, Pele e etc.
Outro fato importante é que alguns comportamentos e predisposições são inatos, eles não precisam ser desenvolvidos (ou aprendidos) durante a história do organismo, mas já vem no pacote de características selecionadas e transmitidas, como o comportamento de manter contato com o mundo pelos órgãos dos sentidos, comer, beber, se movimentar, se afastar de situações que provavelmente causariam danos e morte ao organismo, etc.
E que nossa capacidade de relacionar símbolos complexos (realizamos equivalência de estímulos, quadros relacionais) foram também selecionadas em um nível filogenético juntamente com a evolução do comportamento verbal, não sendo o organismo “cru” como se acreditava antigamente e nem tão completos como os cognitivistas querem nos empurrar.
De forma geral a seleção natural nos dá uma base para o desenvolvimento do segundo nível de seleção chamado Ontogênese que será trabalhado no próximo post. 

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