sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pombos podem ler? (Parte 2)

Meio que problematizando a questão levantada no post a baixo, gostaria de tecer algumas considerações:




1) Pombos podem realmente ler?
2) Se sim, podem ler como humanos?
3) De que consiste o comportamento de ler?



1 - Como vimos no vídeo em que Skinner nos mostra o pombo "lendo", ou pelo menos respondendo diferencialmente a um estímulo visual. Podemos considerar o responder diferêncial com uma molécula do comportamento de ler, mas não ele todo, dizemos então que o pombo pode ler em "partes".

2- Está parte que o pombo é capaz de fazer é segundo Skinner um comportamento de ouvinte, pois teoricamente ele responde a um mando da maquina ("vire-se", "bique", etc.), é um principio, uma unidade de comportamento verbal, mas ainda não pode ser chamado disso. Nós humanos fazemos mais do que simplismente responder diferêncialmente a estimulos visuais, nós "compreendemos o que lemos". Mas de que consiste esse "compreender"?

3- Segundo Skinner, o comportamento de ler consiste em responder diferêncialmente a um estimulo visual em forma de escrita, sendo reforçado por isto de forma generalizada. Isso o pombo é capaz de fazer, mas ainda falta uma coisa, que é complementada posteriormente por Sidman e suas pesquisas sobre "equivalências de estímulos".

Sidman descobriu em suas pesquisas que os organismos não respondem unicamente a estimulos presentes na hora do reforçamento, mas também a outros estimulos ou condições que são colocadas junto a aquele estimulo discriminativo, podendo trocar de função com ele como no condicionamento Pavloviano.


Murray Sidman o pioneiro no estudo de controle de estímulos.

Por exemplo:

Aquele pombo que respondia diferêncialmente aos escritos "vire-se" e "bique", pode ser reforçado nesta contingência somente com a luz da caixa "acesa em 100%" e colocado em extinção com a luz apagada. O estimulo luz vai ser "condicionado" a contingência (estimulo vire-se é condição para se a resposta de virar-se ocorrer - será reforçada; estimulo bique é condição para se a resposta de bicar o disco ocorrer será reforçado).

Sidman chama esse estimulo de "estimulo condicional" sendo um quarto termo na contingência de reforçamento:


Esse estímulo condicional tende também a ele próprio trocar de função com o estímulo escrito "bique", "significando" a mesma coisa, além de estar sujeito a todas as outras leis do controle de estimulos, como dessencibilização, potenciação, generalização, e reforço.

Outros estímulos podem ser emparelhados a este estímulo, também podendo trocar de função com o estimulo discriminativo, formando assim uma "classe de estímulos", estes estimulos tornam-se assim "equivalentes" como nas equivalências lógico-matemáticas.

Sidman classificou x tipos dessas relações de equivalências entre estimulos:

A = A (Identidade)

A = B, então B = A (Reflexibilidade)

A = B, B = C, então A = C  (Transitividade)

A = B, B = C, então A = C, portanto C = A (equivalência).

Por exemplo: A palavra escrita Árvore é condicionada a diversos tipos de árvores mas não a qualquer outro tipo de estimulo que não seja árvores. A ela também é condicionado o som da palavra árvore, e posteriormente isso é feito em diversas linguas como Tree, etc.

Todos esses estimulos e respostas formam juntos uma classe de equivalência sobre Árvores.


Uma pessoa com essas classe pode ser perguntada sobre o que é aquilo?, quando alguem aponta para uma "Árvore" e responder "Árvore", ou então alguem pode pedi-la que desenhe um vegetal muito presente em florestas, e a pessoa desenhar árvore, ou pensar árvore, etc...

Além disso estados físicos, também chamados de sentimentos (como aquilo que é sentido) podem fazer parte de classes de equivalências, como por exemplo, a sensação boa de ganhar um beijo embaixo da árvore, a sensação boa de almoçar com a familia embaixo de uma árvore, etc...

Segundo Sidman, a compreensão e o significado, tratados anteriormente em teorias mentalistas como representações mentais das palavras e objetos, podem ser entendidos como relações de equivalências de 4 ou mais termos.

Portanto respondendo aquela pergunta inicial, o pombo pode ler em partes, mas não pode (naquela situação) "compreender" ou seja, não existe ali classes de equivalências.

Pombos leêm mas não compreendem, humanos leêm e compreendem pois foram treinadas classes de equivalências.

9 comentários:

  1. Pombos lêem, papagais falam e somente humanos crompreendem. Por que será? Ora, poderíamos pensar em treinar pombos ou papagaios emparelhando estímulos para formarem classes de equivalências. Por que estaríamos fadados a falhar nestas tentativas?

    PS: Genial sua montagem da figura de abertura do POST.

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  2. Porque somente humanos até agora podem fazer alguns tipos de equivalências, por caracteristicas unicas do cérebro, ainda não bem desvendadas.

    Na universidade do Pará, existe uma linha de pesquisa com macacos aranha (ou seria pregos) estudando controle de estimulos, sabe-se graças a esses pesquisadores que alguns humanos diagnosticados com "atrazo mental" tem dificuldades muito similares a alguns primatas.

    Técnologias que forem eficazes em treinar equivalências nesses primatas podem ajudar tambem seres humanos.

    A meu ver, essas "estruturas" cerebrais podem de alguma forma "crescerem" dependendo das contingências arranjadas.

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  3. As contingências ambientais de nossa espécie selecionaram estruturas cerebrais que auxiliassem os primatas que andavam eretos, onivoros e com polegares opositores, a operarem cada vez melhor sob seu ambiente ultra-complexo, com grande quantidade de estimulos novos, como tridimencionalidade, alta-gama de cores, ambiente social oriundo da prematuridade dos filhos, etc...

    Nossos cérebros tem uma estrutura evoluida que possibilitou os humanos a passarem por contingências condicionais, e serem os primeiros primatas a fazerem a equivalência completa.

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  4. Isto mesmo, meu caro Marcos. Sua plasticidade epistêmica me supreende. Alguns poucos behavioristas ainda resistem em admitir que temos um cérebro, e como qualquer orgão, ele tem estruturas e funções. Ah, você poderá encontrar equivalência do proposto pelo Sidman em Piaget com o nome estruturas operatórias. Quanto destas estruras é inato ou construído, bem este já é tema para um outro post.

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  5. ótimo post!

    Acredito que já existem pesquisas que mostram que primatas conseguem compreender e que até compartilham uma linguagem própria!

    Quanto a existência de um cérebro, bem, ele não determina o comportamento, mas é algo que se altera durante um comportamento.Sua alteração é o próprio comportamento.

    Só queria entender melhor de discriminação condicional, parece um assunto muito difícil para min.Tenho várias questões como:

    É possível fazer uma discriminação condicional de infinitas ordens? tipo um estímulo que afeta o efeito de outro estímulo, que afeta o efeito de outro estímulo... infinitamente? de que forma que isso é diferente da própria história de contingências?

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  6. "Portanto respondendo aquela pergunta inicial, o pombo pode ler em partes, mas não pode (naquela situação) "compreender" ou seja, não existe ali classes de equivalências."

    Marcos, o Paulo Gurgel já comentou acima, mas vou reforçar: sua apresentação teórica neste post, ainda que simplificada, foi muito precisa!

    Os pombos, bem como os demais animais, não tem aparato orgânico suficiente para equivaler estímulos, pois esse foi um dom que a seleção natural deu por acaso e com exclusividade aos humanos.

    Aliás, foi justamente a equivalência de estímulos que nos possibilitou a linguagem e, por consequência, a civilidade, a cultura, o progresso, a tecnologia e tudo mais que, para bem ou para mal, nos faz tão diferenciados nesse planeta.

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  7. Pedro,

    Não domino muito essa área de discriminação condicional, mas recomendo que busque no Aprendizagem(Catania, 1999). Mas pelo pouco que li, os estimulos condicionais perdem força assim como os condicionados, quanto mais distantes estão da contingência de reforçamento original (e tríplice). Se bem me lembro no Catania chegam a sitar de até 7 termos.

    Psicolóide,

    Nosso aparato organico é plástico, será que com contingências não seria possível complementar o aparato deficiente de alguns animais, usando tecnologias parecidas para corrigir deficiencias em humanos?

    Não creio que foi a equivalência que nasceu primeiro, acredito que ela foi evoluindo junto com o comportamento verbal, em protoculturas de pré-humanos (homo erectus, homo habilis, etc...)
    Pois é sómente no CV que a equivalência demonstra maior complexidade, mas ainda é possivel existir alguns tipos de comportamento verbal sem equivalência.

    Creio que foi uma coevolução.. mas é uma hipótese minha...

    Quanto ao post ser simplificado foi minha intensão, pois não adianta escrever artigos academicos pois isso assustaria novos curiosos do ramo psi para a Análise do Comportamento que é meu objetivo.

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  8. Pedro

    "Quanto a existência de um cérebro, bem, ele não determina o comportamento, mas é algo que se altera durante um comportamento.Sua alteração é o próprio comportamento"

    O Cérebro apriori determina sim alguns comportamentos, pois como explicar reflexos inatos, ou padrões fixos de respostas, além da propria capacidade de ser alterado por alguns estimulos reforçadores primarios?

    A diferência é que nosso apriori não é bem apriori, mas sim selecionado pela seleção natural filogenética.

    Se não reconhecermos isso cairemos nas teorias de lousa em branco... que não são do beheviorismo radical.

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  9. "Não creio que foi a equivalência que nasceu primeiro, acredito que ela foi evoluindo junto com o comportamento verbal, em protoculturas de pré-humanos (homo erectus, homo habilis, etc...) Pois é sómente no CV que a equivalência demonstra maior complexidade, mas ainda é possivel existir alguns tipos de comportamento verbal sem equivalência."

    Concordo com você. Nem toda equivalência de estímulos é comportamento verbal e nem todo comportamento verbal equivale estímulos, mas a linguagem depende de ambos e é uma exclusividade humana. Isso porque os animais, ainda que se comuniquem, não são capazes de criar símbolos arbitrários.

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