quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um pouco sobre a teoria do caos e a análise do comportamento. Uma abordagem não mentalista para a Criatividade.

Antes de ler o texto vejam os todos os vídeos abaixo:


BBC - A VIDA SECRETA DO CAOS - PARTE 1 por proforestes


BBC - A Vida Secreta DO CAOS - PARTE 2 por proforestes

BBC - A VIDA SECRETA DO CAOS - PARTE 3 por proforestes

BBC - A VIDA SECRETA DO CAOS - PARTE 4 por proforestes

BBC - A VIDA SECRETA DO CAOS - PARTE 5 por proforestes

BBC - A VIDA SECRETA DO CAOS - PARTE 6 FINAL por proforestes



O que a análise do comportamento pode aprender com a teoria do caos?

Muito, e acho inclusive que elas são complementares, e vou dizer o por que.

É dito nos vídeos que a ordem e a repetição e os padrões (geométricos) são apenas umas das possibilidades do caos e da auto-organização, se pensarmos bem, as respostas de um organismo nunca são as mesmas, elas sempre tendem a variar em alguma medida ou propriedade, e é de certa forma misteriosa entre a comunidade analítico-comportamental a “causa” desta variação, ou seja, não há nenhuma causa newtoniana, nenhuma variável externa que explique essa variação espontânea extremamente necessária para o algoritmo da seleção pelas conseqüências funcionar e possibilitar a construção e o desenvolvimento de novos repertórios no organismo.  

Experimentos em análise do comportamento inclusive já mostraram ser esta variação em si uma propriedade intrínseca do comportamento que pode inclusive ser transformada em comportamento e reforçada.

Chamarei aqui de Resposta criativa, ou Criatividade.

Nos estudos de (Cruvnel, 2002) feitos com golfinhos, ao invés de se reforçar determinadas topografias dos animais, como habitualmente é feito em modelagens simples, foi dispêndio o reforço a cada novo padrão comportamental que nunca havia ocorrido no repertório do organismo, ou seja, sempre que ele emitia uma resposta inédita (com bastante diferença topográfica) os pesquisadores reforçavam logo em seguida. Inesperadamente o animal começou a emitir respostas que nunca haviam surgido no repertório dele diferindo em muito de tudo o que os pesquisadores já viram.

Ou seja, o golfinho passou a ser criativo, o que eles estavam reforçando não era uma resposta topográfica especifica, mas a resposta reforçada era uma propriedade relacional do comportamento “o ser diferente”, eles estavam reforçando a auto-regulação do operante aumentando o nível de caos do responder.

Segundo a visão tradicional em Análise do Comportamento a criatividade é explicada como um padrão comportamental que teve valor evolutivo e foi selecionado via filogênese, mas segundo os dados obtidos na teoria do caos é o contrário, a criatividade é inerente ao operante, sendo a seleção por conseqüências um fator adicionado a posteriori, sendo a estereotipação do comportamento uma conseqüência dessa, e sendo essa inclusive ser selecionada e potencializada por reforçamento como se fosse uma resposta em si: “Mutações podem se tornar mais prováveis controlando-seum meio menos preciso ou encorajando perturbações” (Skinner,1999:386)

Podemos assim traçar um continum entre o comportamento estereotipado (ordenado) e o comportamento variado, em que o primeiro é só uma das possibilidades do segundo:

Clique para ampliar

O Comportamento sendo entendido como um sistema caótico, que produz regularidades graças ao algoritmo da seleção pelas conseqüências e essa em si pode potencializar o caos interno ao comportamento da mesma forma que o Feedback visual mostrado no vídeo.

A própria seleção pelas conseqüências é uma replicação das leis simples que regem a selação natural que é um algoritmo replicado ao infinito (podemos ver ele agindo em outros sistemas caóticos como metacontingências, e mesmo em sistemas informatizados).

As implicações desse tipo de visão, são importantíssimas em áreas como educação, empreendedorismo e saúde.

Podemos potencializar a propriedade caótica do comportamento para gerar variações no repertório de indivíduos que em si possam produzir conseqüências adaptativas que mantenham seu novo repertório.

E ao inverso, também se aplica podemos reforçar padrões comportamentais em pessoas em que a aleatoriedade esteja prejudicando sua qualidade de vida, e desenvolvimento social e econômico.

Esse processo vem acontecendo a milhões de anos e sempre vimos isso como uma falha ou irregularidade, sendo que é o fator principal para a evolução de qualquer sistema a existência dessa variação.

Podemos ver isso em nossa sociedade, a exigências de criarmos apenas “um” padrão correto ou certo, 1 método científico, 1 moral, etc, E isso é na verdade um caminho contrário ao sistema que possibilita a evolução dessa sociedade ou cultura, a variação. É somente quando existe um sistema caótico em operação e este é incentivado é que surgem padrões e soluções para problemas novos.

Podemos construir um mundo e uma sociedade em que utilizaremos o caos com um aliado, o utilizando para potencializar a as variações comportamentais, as valorizando, e assim aumentando a probabilidade de encontrarmos soluções para os intensos problemas dos quais enfrentamos.

Referências:


Cupertino, C.; Sampaio, T. P. de A. Existe criatividade? A visão do behaviorismo radical Encontrado em: http://www.nuted.ufrgs.br/objetos_de_aprendizagem/2009/criativas/midiateca/modulo_1/Criatividade%20na%20perspectiva%20Behaviorista.pdf



2 comentários:

  1. Caos e Criatividade... gozado que parece que voltamos a Mitologia Grega: na origem havia o Caos, que foi erroneamente interpretado como "bagunça".

    Na verdade, Caos é algo como "Coisa complexa e misturada como uma rede", que é fundamento para criação.

    Admitir o caos é tão somente admitir que tudo está interconectado e que mínimas ações podem ter consequencias inesperadas!

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  2. E é também uma propriedade inerente ao comportamento, independente de relações entre variáveis externas a ele.

    É a explicação para a variação, e não uma limitação da ciência "newtoniana".

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