quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como a A.C. entende a ansiedade.

Ansiedade é um fenômeno que atinge a todos nós.


É aquela sensação ruim que sentimos antes de uma prova, na balada pra chegar naquela pessoa que estamos olhando, antes de trabalho, etc. 


E em certas pessoas pode se tornar crônico, independente de situações específicas, tornando-se uma intensa fonte de sofrimento, tornando a vida dessas pessoas muito difíceis. 
 Como a análise do comportamento explica esse fenômeno?  
Segundo Skinner (1953) sentimentos são subprodutos de relações comportamentais e não “causas”.

Como então a ansiedade surge e está muitas vezes associadas a vários transtornos como o de Pânico?
Sentimo-nos ansiosos quando em determinado momento de nossa história de vida sofremos algum tipo de dor ou dano (que chamarei de evento aversivo), e esse evento aversivo, como tudo, ocorre em um contexto especifico com “estímulos” antecedentes a ocorrência dele.
Esses estímulos que ocorrem antes do evento aversivo sinalizam a ocorrência desse evento, tornando mais provável respostas suas de evitação (esquiva) ou de eliminação (Fuga) deste evento.

Com o tempo porem esses estímulos antecedentes passam a ganham eles próprios propriedades aversivas, eles próprios tornam-se desagradáveis para o organismo, esse sentimento é o de ansiedade.
Normalmente as pessoas se sentem ansiosas na presença de estímulos “situações” que precedem um evento aversivo.

Porem na ciência do comportamento nem tudo é 1+1=2.
Ocorrem outros processos paralelos a esse que chamamos de treino discriminativo (pois a pessoa passa a responder na presença de um estimulo e não responder na sua ausência).
Dentre eles a generalização de estímulos, resumidamente: um estimulo com características topográficas ou funcionais ao estimulo condicionado tente a eliciar/evocar respostas similares aquelas que foram condicionadas.

Ex: Uma pessoa que fica ansiosa quando vê um cachorro Pitbull, tenderá a ficar também na presença de um pastor, Doberman, ou mesmo de um Pinscher embora que com intensidades de respostas diferentes, sempre relativas ao “grau de similaridade” que chamamos de gradiente de estímulos.




Outro processo que pode ocorrer é o de equivalência de estímulos.
Equivalência de estímulos acontece quando em uma contingência de três termos (antecedente-resposta-consequente) um 4º (ou 5°, 6°, 7°, etc.) é correlacionado a essa contingência e tende a ter controle também sobre a resposta do primeiro estimulo.
Fala-se então que esse estimulo é equivalente, pois pode ser permutado pelo primeiro controlando o mesmo responder.

Tanto o cachorro quando o terreno são equivalêntes para o responder de "pânico".



No exemplo do cachorro: a pessoa ansiosa com cachorros pode ter sido mordida por um Pitbull quando criança próximo a um terreno baldio. Ela então pode ficar ansiosa tanto na frente de cachorros quando em frente a terrenos baldios.
E mais, se outro estimulo for correlacionado ao estimulo equivalente ele também pode evocar a resposta, mesmo não sendo condicionado na primeira relação.
Ex: Se próximo a um terreno baldio muito tempo depois da mordida, o homem ver um gato, este tenderá a evocar também a resposta de ansiedade, mesmo não tendo nunca mordido este sujeito e nem estar lá na hora da mordida.
Alem de eventos externos algumas reações fisiológicas que ocorrem na situação de ansiedade tendem a controlarem respostas de fuga/esquiva e a fazerem equivalências entre si também. Tornando a análise funcional de um evento ansioso muito complexa.


Pessoas que sentem “Medo de tudo” provavelmente passaram por algumas contingências aversivas e de equivalência estando sob controle de múltiplas variáveis generalizadas e equivalentes (incluindo eventos fisiológicos como taquicardias, sudoreses, etc.)
E o tratamento delas deve levar em conta a multideterminação do comportamento ansioso, como ele foi instalado e quais as equivalências e generalizações existentes no repertório dela. Para ser possível traçar extratégias de intervenção eficazes. 

7 comentários:

  1. Ótimo texto, Marcos. Curioso que por "equivalência de estímulos" eu entendia mais ou menos o conceito de "generalização" (como no caso de nos comportarmos similarmente na presença de um pitbull e de um pastor em razão da similaridade de estímulos [p. ex., ambos latem e têm dentes afiados]). Agora consigo diferenciá-los (os termos) melhor.

    Um abraço.

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  2. Que bom Daniel,

    A equivalência de estimulos, termo cunhado por M. Sidman é em certa medida parecido com o condicionamento respondente, em que um estimulo arbitrário (condicional) é condicionado a outro (discriminativo), e se torna equivalente, ou seja passa a controlar o responder operante de forma discriminativa como o outro.

    Os dois estímulos formam uma classe de equivalência, Sidman usa a matemática para exemplificar os tipos de equivalência possíveis.

    Por Identidade A=A
    Por Simetria A=B, portanto B=A
    Por Transitividade= A=B, B=C, portanto A=C.

    Sidman descobriu porem que certas relações equivalentes emergem nos organismos sem treino operante, sem reforçamento.

    Em um procedimento conhecido como Match to Sample, em um pombo treinado a bicar o disco, se eu apresentar um estimulo arbitrário (Quadrado) e logo após a um estimulo discriminativo (vermelho), se eu inverter e apresentar o estimulo vermelho e varias figures geométricas o pombo bicará o quadrado sem ser treinado(a=b, b=c)

    Outro exemplo com humano agora, se eu apresentar uma palavra escrita a um estimulo, e o estimulo fisico a uma palavra vocal, a apresentação da palavra escrita tenderá a evocar a verbalização vocal sem treino.

    Esses são os exemplos mais simples de estudo de equivalências, é um dos paradgmas para entendermos o que é chamado de cognição, alem de ser muito útil na clinica.

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  3. Parabéns pelo texto. Muito didático!

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  4. olaaaaa.. boa noite.. texto muita bom.. ainda continuo com uma duvida.. gostava de saber qual eh a relacao que pode existir entre a ansiedade na infancia e a analise funcional do comportamento. obrigada

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  5. Anonimo, a resposta é TODA. A análise funcional é o instrumento conceitual que todo analista do comportamento lança mão para analisar seu objeto de estudo e modificação: o comportamento.

    Estes vários exemplos no texto tem o objetivo de criar no leitor "o conceito" e não ilustrar apenas casos isolados, nosso referencial teórico busca analisar cada caso particular, ou seja, através de relatos e observação procurar entender a função do comportamento, suas partes componentes e enquadrá-lo no referencial da tríplice contingência, bem como, equivalência de estímulos, generalização, etc...

    Não buscamos tratar tipologias, mas casos individuais, não lidamos com "Ansiedade Infantil", mas com o Joãozinho que está inserido em um contexto único x, e que apresenta comportamentos topograficamente classificados como ansiosos, ou numa linguagem médica, com ansiedade.

    O modelo teórico da Ansiedade é genérico para qualquer ser vivo, independentemente da espécie ou faixa etária. O que será diferenciado será o manejo do caso, pois Joãozinho é único e precisamos buscar nas contingências de vida únicas dele, os elementos para que possamos fazer uma modificação de comportamento adequada.

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