quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A visão Analítico Comportamental da Lógica.

Ultimamente, venho me deparado onde quer que exponho minhas idéias (me relaciono verbalmente sob o controle de conceitos), com uma dificuldade de inúmeras pessoas de pensar de forma lógica.
Mas afinal o que viria a ser a lógica? 


Aristóteles o "Pai" da Lógica.
Uma definição possível de lógica é a seguinte:

"Lógica (do grego clássico λογική logos, que significa palavra, pensamento, ideia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico), considerada uma ciência formal, é o estudo formal sistemático dos princípios da inferência válida e do pensamento correto". (Wikipédia)

Ok, Ok, mas o que viria a ser Inferência, e o que a tornaria válida? 


Inferência consiste em baseado em duas ou mais premissas, que nada mais são do que enunciados verbais sobre o controle de caracteristicas do contexto (Tactos) induzir um enunciado verbal derivado delas (ou seja um Intraverbal Auto-Clítico). 


Um exemplo de premissa:


B. F. Skinner é um homem.



Uma premissa pode também ser chamada de afirmação, nada mais faz do que descrever um estado de coisas dado certa situação. Note que o responder estava não só sob o controle de B. F. Skinner mas também da classe de equivalência (Conceito) de Homem, ou seja todas as características compartilhadas ao nome homem que podem ser intercambiáveis com o nome e se estiverem presentes em um um Sujeito singular influenciam no enquadramento do sujeito na classe Homem. 


Sd (Visão de B. F. Skinner) - Sd (Caracteristicas de um Homem) - R (B. F. Skinner é um homem) SR (Reforço Social e Prático).


Este Tato de afirmar que B. F. Skinner é homem, logo não se encontra somente sobre o controle de B. F. Skinner mas de toda a história de reforçamento diferencial do sujeito que verbalizou com Homens de diversos tipos,  ouviu histórias sobre como é ser homem (Aparência e atitudes de homem), etc.



Skinner compartilha de várias caracteristicas (Estímulos) presentes na classe de equivalência "Homem.
Mas mesmo estando sobre o controle de vários eventos um Tato Premissa é sempre uma descrição de coisas, eventos, ou da relação entre eventos e coisas. 


A inferência vai um pouco além, ela leva a uma conclusão coordenando duas ou mais premissas, de forma a derivar delas uma nova premissa também chamada de Conclusão.


Ex:


B. F. Skinner é um homem. (Premissa 1)
Todo homem é mortal          (Premissa 2)
Logo, B. F. Skinner é mortal. (Conclusão)


Note que a conclusão não é controlada pela descrição de algo conhecido (Não vi B. F. Skinner morrendo), mas derivei ela de outras premissas estas sim descrevendo estados de coisas "Vividas pelo Falante", a ainda, um detalhe que gostaria de ressaltar, a premissa 2 é um argumento geral pois cria um universo do qual B. F. Skinner faz parte, ou seja, mortal é um estimulo que faz parte também da classe de equivalência (ou Conceito) de homem. 




Sendo que o terceiro comportamento verbal está sob controle principalmente dos outros dois (embora que não só, todos sabemos que B. F. Skinner morreu em  18 de agosto 1990, uma perda lastimavel para a ciência).


Portanto a Inferência pode ser entendida como um Autoclítico, um comportamento sob o controle de outros comportamentos, de forma a melhorar a influência do falante sobre seu mundo.


Muitos autores trataram desta classe de comportamentos "Organizadores de Tatos" desde a antiguidade, sendo o mais expressivo e para muitos considerado o criador da Lógica Aristóteles. Do qual fez da lógica uma disciplina obrigatória e fundamental para o pensar correto.


Mas o que andou me incomodando tanto em relação a falta de lógica no falar de certas pessoas é o pensar incorreto ou falácias, utilizadas como se fossem argumentos válidos.


Ok, ok, definição de argumento.


Um argumento é um encadeamento de Comportamento Verbais que tem como função o "Convencimento" de seu Ouvinte em uma discussão, ou evento verbal. 


Uma falácia consiste em um argumento emitido sem o devido tratamento lógico, ou com o mesmo feito de forma incompleta, como por exemplo.


John B Watson é Behaviorista
Todo Behaviorista é Radical 
John B Watson é Behaviorista Radical


Esse é um exemplo clássico da Falácia da Generalização Indevida, note que a primeira e a terceira premissas estão corretas, mas a do meio não. Nem todo behaviorista é Radical, mas existem outras vertentes de Behaviorismo como o Metodológico, o Mediacional, o Molar, etc.) 


John B. Waton eram sim um Behaviorista mas não Radical
Muitas pessoas incorrem neste e em outros erros, por um deficit nas Agencias de Controle responsáveis pelo treino deste tipo de comportamento nestas pessoas, e por uma valorização exacerbada de nossa cultura de falas intuitivas, que saem espontaneamente, geralmente sob o controle de sentimentos. 


Preparei em seguida uma lista das falácias que me aparecem mais comuns:


A Falácia de Apelo a Autoridade:


Emitir uma conclusão sob controle da posição hierárquica que determinada pessoa assume dentro de uma determinada cultura.


Ex: 


Freud foi considerado o maior Psicólogo do Século XX. 
Freud disse que todo mundo é acometido pelo Complexo de Édipo
Logo, eu e qualquer outra pessoa passou pelo Complexo de Édipo.


Freud é uma grande referencia no curso de psicologia, conhecido como um dos maiores psicólogos de todos os tempos, ao logo de sua obra formulou a teoria do complexo de édipo graças a suas observações empíricas em pacientes dos quais atendia. O problema da terceira premissa não incorre do Complexo de Édipo ser verdadeiro ou não, mas de que ela derivou somente da "Autoridade" de Freud como um "Grande ou Maior" Psicólogo do Século XX e não por  comprovações empirico-experimentais ou práticas. 


Sigmund Freud o pai da Psicanálise e grande Autoridade na Psicologia.



Discutirei em outro post o conceito de "Autoridade" e de como ele se relaciona as agências de controle como Igreja, Estado, Escola, Família, Medicina e Psicoterapia.


Mas resumidamente: Autoridade é todo poder exercido de forma Cerimonial, ou seja, sem relação com a "Real" contribuição da pessoa, e a resultados práticos. 


Outra falácia comum é a de Falsa Dicotomia


Ex:


1 - O Behaviorismo (anterior ao Verbal Behavior de Skinner) não consegue (ia) explicar o comportamento criativo e de resolução de problemas.
2 - Logo, o Mentalismo está correto. 


É falso pois nos leva a crer de forma forçada  que só existem duas opções (O Behaviorismo daquela época e o Mentalismo) quando na verdade o Universo (Conjunto U) de possibilidade é muito maior (Após o lançamento do Verbal Behavior de Skinner ouve um grande desenvolvimento no estudo do que antes se chamava Cognições, Criatividade, Resolução de Problemas, Simbolismo, etc.).


A Falsa dicotomia que divida a política entre "Direita e Esquerda"



A Falácia do Escocês 


Esta falácia consiste em forçar a definição para excluir algum individuo que compartilha das características principais desta definição a não participar desta definição. Ela tem esse nome pelo exemplo que geralmente se usa quando se fala dela. 


"1- Todo escocês não adoça seu Mingau;
 2- Conheço um escocês que adoça
 3- Logo ele não é um Escocês de Verdade'"


O Genocida Norueguês Anders Behring Breivik era cristão praticante e se considerava um Cavaleiro Templário (Guerreiros Cristãos que lutavam contra os "Hereges Islãmicos nas Cruzadas entre os séculos XI e XII). O fato dele ter matado faz dele um não-cristão, pois a definição de cristão é acreditar em Jesus Cristo. 



A falácia consiste em distorcer a definição de Escocês que é a de Morar na Escócia e não a de "Não adoçar o Mingau". 


Vou dar um exemplo da Neurociência Cognitiva:


1ª Premissa: A Neurociência Cognitiva utiliza-se do método experimental, pautando seu trabalho em pesquisas estatísticas, Neuro Scans Funcionais, etc, embora acredite que exista um mediador que processa internamente as informações que entram através de órgãos dos sentidos e os transforma em comportamento público. 


2ª Logo, A Neurociência Cognitiva não é Mentalista de Verdade.


Da mesma forma a Neurociência Cognitiva é Mentalismo pois pressupõem um Ente Mediador entre Estímulos e Respostas.



Esta falácia tenta justificar não ser "Mentalista de Verdade" com o fato de se usar métodos experimentais, quando a definição de mentalismo é justamente explicar o comportamento através de mediações sejam elas físicas, imateriais, ou analógicas. 


A Falácia da Inversão do Ônus da Prova


Essa é imensamente usada no campo da religião;


Os crentes geralmente a utilizam para se defender dos argumentos dos ateístas de que deus não pode ser provado:


1 - deus não pode ser provado
2 - a inexistência de deus não pode ser provada
3 - logo, houve um empate favorecendo a crença.


Falácia gravíssima !!!


Não se pode provar a inexistência de algo, a prova tem que partir de quem afirma a existência.
Não posso provar que Papai Noel não exista, mas quem me fala sobre Papai Noel é que deve me dar provas de sua existência. É dele o ÔNUS DA PROVA.





Igualmente com a Mente (Cartesiana) 


1 - a mente não pode ser provada
2 - a inexistência da mente não pode ser provada
3 - logo, houve um empate favorecendo a crença. 


Outros conceitos e abobrinhas podem ser refutados com a correção dessa falácia de inversão do Ônus da Prova. 


Falácia de Alegação ao Sujeito Especial 


Essa falácia exclui o sujeito das leis comuns da lógica afirmando que elas não se aplicam a ele. 


Por exemplo:


1 - A Mente pode ser refutado por ausências de provas
2 - a inversão do ônus da prova não pode ser feito pois também é uma falácia lógica
3 - Mas, Mente é superior a racionalidade e a lógica. 


Warning, Warning, aviso de falácia brava.... 


Nenhum sujeito pode ser excluído da lógica, pois senão poderíamos dizer que um assassino não matou, pois a ele não se aplica a lógica. 


Mas impressionantemente ainda existe uma falácia mirabolante para escapar desta contestação que é a falácia circular. O sujeito embasa que seu sujeito é superior a lógica porque foi ele quem a criou (Risos), vejamos um exemplo que se aplica tanto no campo da religião como no da Psicologia.


A bíblia é verdadeira porque foi inspirada por deus, e deus é verdadeiro porque está escrito na bíblia. 



1 - Deus (Mente) criou a lógica
2 - Está escrito em algum livro, ou se é dito isso culturalmente.
3 - Logo, Deus (Mente) é superior a lógica


Digamos que um sujeito cético (chato) pergunte:


 - Mas qual é a garantia de que esse livro ou história (Teoria) é verdadeira? 


E o crente responde:


- Foi deus a mente quem fez.


E o Cético torna a perguntar:


- Mas e a garantia de Deus (Mente) existir? 


E o crente responde:


Está escrito (ouvi na história) que ele existe...


E assim ad infinitum... 


Existem muitas outras falácias lógicas que não me lembro agora, mas creio que estas são as mais comuns. 


Entende-se que a lógica em si não descobre nada de novo sobre o mundo como a ciência e o método experimental, mas sim organiza os Tactos Intraverbais e Autoclíticos que são emitidos pelos Falantes dando uma maior probabilidade deles influenciarem com mais eficiência suas vidas e o mundo a seu redor. 


E de que o erro geralmente incorre da falta de "contato" das premissas com o mundo das evidências e da desarticulação delas com a descrição correta de suas classes de estímulos e quadros de equivalências.


Na minha opinião e de muito outros cientistas e filósofos a lógica deve estar sempre presente na vida das pessoas e principalmente na vida dos cientistas, um bom cientista é também um bom pensador lógico. 


Espero que tenha ajudado e introduzido vocês nesse intrigante mundo da lógica, até mais!

13 comentários:

  1. Ótimo texto, bastante claro e conciso, utilizando-se de premissas lógicas para apresentar seus argumentos! rs

    Parabéns!

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  2. Não achei que foi um dos seus posts mais BEM ESCRITOS (apresenta até alguns erros de português), mas é, mesmo assim, um excelente post! Mesmo.

    Sua análise da lógica é boa e, além disso, traz algo muito relevante de ser divulgado, que são as falácias lógicas.

    Sobre a autoridade, escrevi um texto a respeito no meu blog, não sei se o conhece:
    http://pedro-sampaio.blogspot.com/2011/07/autoridade.html

    Dado que pretende escrever sobre o tema, também apreciaria sua opinião a respeito.

    Retomando a questão da lógica, em "O Comportamento Verbal" tem um capítulo (o 18 se não me engano) que se chama "Comportamento Lógico e Científico" onde ele fala sobre o tema. Ele enfoca alguns aspectos diferentes da sua análise. Eu acho a sua complementar a dele e, principalmente, mais acessível (dado que este livro é, na minha opinião, um porre de ler - mas este capítulo é dos mais legais).

    No mais, parabéns pelo post e pelo blog. Leio ele já tem algum tempo e está entre meus prediletos, mas é a primeira vez que comento.

    Abraço!

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  3. Obrigado Pedro, sua crítica pra mim é uma honra.

    Bem, português e gramática não são meus fortes, e confesso que mandei bala no texto sem me preocupar com revisão do mesmo.

    Fico honrado em ser comparado ao grande Skinner (não por autoridade, mas pelas contribuições de verdade que esse Grande Cientista do século XX podendo ser comparado a Albert Einstein e Charles Darwin, contribuiu para a compreensão que temos hoje de mundo).

    Li o Verbal Behavior no Segundo ano de faculdade sob a orientação de uma grande Analista do Comportamento Clínica e ex-Professora Kátia Ramos.

    E me apaixonei pelo Behaviorismo Radical e pela Análise do Comportamento.

    Prometo que lerei o seu post e novamente o capitulo 8 do VB para talvez complementar este post e publicá-lo em outras mídias.

    Abraços e Reforços Positivos Mil!

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  4. Olá, Marcos.

    Gostaria de criticar o seguinte trecho de seu post:

    ""

    1ª premissa: A Neurociência Cognitiva utiliza-se do método experimental, pautando seu trabalho em pesquisas estatísticas, Neuro Scans Funcionais, etc, embora acredite que exista um mediador que processa internamente as informações que entram através de órgãos dos sentidos e os transforma em comportamento público.

    2ª premissa: Logo, A Neurociência Cognitiva não é Mentalista de Verdade.

    Esta falácia tenta justificar não ser 'Mentalista de Verdade' com o fato de se usar métodos experimentais, quando a definição de mentalismo é justamente explicar o comportamento através de mediações sejam elas físicas, imateriais, ou analógicas.

    ""

    Repare na conjunção "embora" que você utilizou no primeiro parágrafo citado. Dá a entender que você toma mentalismo e ciência como excludentes. O último parágrafo que citei também deixa claro que você considera "explicar o comportamento através de mediações" incompatível com "usar métodos experimentais".

    Existe um problema epistemológico bem grave aqui. Não é porque a sua ontologia não concebe uma entidade mental, que outras ontologias não possam conceber uma e, a partir dela, fazer ciência.

    Seu texto soa como se os cientistas mentalistas tivessem que se explicar ao restante da ciência e da comunidade científica por serem mentalistas. Como se tivessem que, dando um sorriso amarelo, dizer: "Vejam! Apesar de usarmos a noção de mente/cognição, usamos também o método científico".

    A ciência cognitiva NÃO precisa abrir mão do mentalismo para assegurar-se enquanto ciência. Ela já é o establishment da pesquisa científica do comportamento. E o é com muito mérito e suporte em evidências. Você está esquecendo que os marginais são vocês, analistas do comportamento.

    Uma coisa é criticar a população em geral por suas superstições, outra coisa é afirmar que os cientistas estão sendo menos cientistas por utilizarem modelos mentais. Seria uma falácia da minha parte dizer que a mente "existe" porque quase todos os cientistas acreditam nela, mas é uma ingenuidade da parte dos analistas do comportamento, ao verem que suas teorias tão empíricas não estão sendo adotadas pela GRANDE MAIORIA da comunidade científica, acreditar que o problema está na comunidade científica e não em suas próprias teorias.

    Espero que o tom agressivo do meu comentário não se sobreponha à seriedade dessa discussão, mas não posso deixar de expressar meu descontentamento com o fato de os behavioristas radicais geralmente se comportarem como se estivessem imunes ao problema do relativismo epistemológico.

    Um grande e psicolóidico abraço!

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  5. Psicolóide, eu não disse que os mentalistas são menos cientificos, o que afirmei é que os cognitivistas são mentalistas, e pra mim Behaviorista Radical, que adoto o modelo contextualista, e anti-realista, concebo os constructos mentais assim como Skinner como ficções explanatórias, e vou explicar meu ponto de vista.

    Quando um cognitivista diz que determinada estrutura cerebral explica o comportamento, ele comete uma falácia grave epistemologicamente falando, pois a estrutura nada mais é do que um "Resumo" uma construção teórica feita a partir de regularidades entre dados da segunda parte da relação tríplice (A Resposta) sob modelos estatísticos.

    O argumento deles basicamente não mudou, e não conseguiu responder a duras críticas epistemológicas feitas por Skinner ainda nos primeiros anos de suas atividades.

    A diferença é que agora eles relacionam conceitos baseados em padrões estatísticos a funcionalidades cerebrais, dizendo que a funcionalidade cerebral produz o comportamento. Sendo que a definição inicial de Skinner é muito mais completa (O organismo muda como um todo, ou seja as contingências produzem além da mudança observável na frequência e topografia de respostas, uma mudança estrutural e funcional no organismo inteiro, e dentre essas partes no SNC e SNP).

    Na minha opinião todo cognitivista comete a falácia "Post hoc ergo propter hoc", seja ele da época do Tolman do Hull, ou sejam os modernos Neurocognitivistas.

    O fato de nossa ciência não ser aceita não tem nada a ver com a teoria e a aplicabilidade desta, mas ao Zeitgeist histórico e cultural que perpassou o século XX, a crítica não respondida a tempo de Noan Chomsky, e o entrincheiramento dos Behavioristas nas Academias (quadro que já está mudando, é só ver a ABPMC deste ano).

    Não ligo para comentários agressivos, até gosto porque posso deixar de maneirar (hehehe)

    E seja sempre bem vindo no meu blog!

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  6. O Cognitivismo atual comete um reducionismo Cerebral, enquanto o Behaviorismo Contextual (ou Radical) integra o cérebro na contingência, fazendo dele mais um contexto em que o comportamento ocorre.

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  7. "Quando um cognitivista diz que determinada estrutura cerebral explica o comportamento, ele comete uma falácia grave epistemologicamente falando, pois a estrutura nada mais é do que um "Resumo" uma construção teórica feita a partir de regularidades entre dados da segunda parte da relação tríplice (A Resposta) sob modelos estatísticos."

    Não são apenas evidências estatísticas que dão subsídio aos modelos cognitivistas.

    Em todo caso, não seria a tríplice contingência também um modelo teórico baseado em evidências que o próprio behaviorismo radical torna possíveis? Você disse ser anti-realista. Entretanto, se a análise do comportamento toma seu objeto de estudo como um fato da natureza, ou seja, se toma o comportamento como apriorístico, então é contraditório ser anti-realista e behaviorista simultaneamente.

    Eu não tenho dúvidas da superioridade do MODELO TEÓRICO do behaviorismo radical sobre os modelos teóricos cognitivistas, entretanto, não estou nada certo quanto a assertivas do tipo "finalmente temos o behaviorismo radical, que atenta para os fatos da natureza e lida de modo científico com o comportamento humano" ou "os cognitivistas desprezam evidências da natureza, como a seleção por consequências, e ficam presos a mitos como a existência da mente".

    Nessa história de "psicologia científicamente comprovada", por enquanto, todas as teorias, INCLUSIVE O BEHAVIORISMO RADICAL, saem perdendo. No dia em que os resultados de vocês, especialmente em relação à clínica e à linguagem, apresentarem solidez suficiente para convencer a comunidade científica a aceitá-los, esta se sentirá compelida a abandonar e desautorizar o mentalismo.

    Enquanto isso não acontece, essa história de "é culpa da mídia, do zeitgeist, do Chomsky ou do padre Reginaldo" soa apenas como mimimi de teóricos que se acham mais eficazes do que realmente são.

    No mais, parabéns pelo seu excelente blog e pela liberdade para discussões.

    Abraços cordiais e psicolóidicos!

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  8. "Em todo caso, não seria a tríplice contingência também um modelo teórico baseado em evidências que o próprio behaviorismo radical torna possíveis? Você disse ser anti-realista. Entretanto, se a análise do comportamento toma seu objeto de estudo como um fato da natureza, ou seja, se toma o comportamento como apriorístico, então é contraditório ser anti-realista e behaviorista simultaneamente".

    A tríplice contingência é algo observado, uma regularidade com alto grau de correlação, e não um modelo "teórico", ela é apenas uma descrição do que foi até hoje observado indutivamente.

    Já o comportamento operante é em si um constructo teórico pois não pode ser observado (o que podemos observar são respostas e estímulos), apenas o inferimos da regularidade em que respostas seguidas de determinadas consequências e em determinados contextos se repetem e em outros não. Mas não um constructo na medida em que se diz mediador.

    Não pressupomos um elo "causal" necessário, não dizemos o "como" o estímulo altera o organismo de forma a aumentar a probabilidade da resposta (isso seria uma terefa da fisiologia, Neurociência, etc) mas descrevemos relações entre S-R.

    Todos os modelos teóricos Behavioristas são descrições experimentais.

    Agora sua crítica de Anti-Realista e Behaviorista não se misturarem, eu te respondo da seguinte maneira:

    Não pressupomos a existência de nada "A priori", nem Resposta e nem Estímulo existem independente da relação comportamental, estímulos e respostas são abstrações teóricas, que não podemos dizer que possuem uma existência "Em si", ou numenal, mas são derivados de relações.

    A diferença é que reconhecemos isso e não nos iludimos com o realismo mental ou cerebral como os cognitivistas fazem.

    Tentando criar um Elã vital entre o estímulo e a resposta, algo que existe em sí a Mente.

    Costumo comparar o Behaviorismo mais ao ceticismo que ao pragmatismo, como ele é sempre comparado.

    Somos céticos sobre a existência de qualquer coisa como Pirro na antiguidade, trabalhamos apenas com descrições e como elas podem ser úteis para o trabalho humano (ou sobrevivência da espécie como diria Skinner).

    Agora quanto ao tratamento da linguagem e a clinica, acho que você anda meio desinformado Psicolóide, a terceira onde de abordagens comportamentais clinicas como a FAP, ACT e TCR estão pouco a pouco tomando lugar das abordagens tradicionais como a Psicanálise e as TCCs, demonstrando em muitos estudos uma eficácia maior que a combinação de TCCs e Fármacos.

    E quanto ao tratamento da linguagem temos brilhantes estudiosos aqui no Brasil que a muito vem desenvolvendo a ciência do Comportamento Verbal iniciada por Skinner (é só procurar estudos publicados em diversas revistas da área)

    Dentre elas a teoria dos Quadros Relacionais.

    Obrigado mais uma vez e volte sempre!

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  9. Uma contradição:

    "A tríplice contingência é algo observado, uma regularidade com alto grau de correlação, e não um modelo 'teórico', ela é apenas uma descrição do que foi até hoje observado indutivamente."

    "Não pressupomos a existência de nada 'A priori', nem Resposta e nem Estímulo existem independente da relação comportamental, estímulos e respostas são abstrações teóricas, que não podemos dizer que possuem uma existência 'Em si', ou numenal, mas são derivados de relações."

    Se estímulo e resposta não existem a priori, é estranho você ter dito que a contingência é algo observado ou apenas uma descrição. A própria descrição já não é neutra em relação ao mundo. Não é observação pura (pois não existe observação pura). Se fosse assim, eu poderia dizer que a velocidade de processamento da informação é um fato real, observação pura de algo dado. Visto que ela consiste puramente na medição do tempo de execução de uma tarefa.

    E um problema:

    "Não pressupomos um elo 'causal' necessário, não dizemos o 'como' o estímulo altera o organismo de forma a aumentar a probabilidade da resposta (isso seria uma tarefa da fisiologia, Neurociência, etc) mas descrevemos relações entre S-R."

    O fato de vocês não dizerem como o estímulo afeto o organismo (e de atribuirem tal tarefa à fisiologia) não isenta o modelo de seleção por consequências de ser um construto teórico que pressupõe um modo de ser para as coisas. Primeiro você define o que é estímulo, o que é resposta e o que é consquência. Só então eles se tornam observáveis e mensuráveis.

    Novamente eu repito, eu não duvido da superioridade do modelo teórico da análise do comportamento, mas eu acredito que vocês incorrem em um erro gravíssimo ao acreditarem que estão lidando com fatos enquanto os cognitivistas estão lidando com mitos. A meu ver, AMBOS trabalham com ficções teóricas que são necessárias, mas que estão longe da consistência necessária para convencer a comunidade científica e a sociedade em geral. Não dá para culpar o zeitgeist pela incompetência da psicologia como um todo.

    O que fazer então? Abandonar tudo? Não. A análise do comportamento deve continuar firme e forte com seu promissor programa de pesquisa. Mas esse programa tem muito a ganhar se for purificado de toda forma de realismo. E digo purificado mesmo! Não apenas parcialmente, como do jeito que tem sido até então. Afinal, anti-realistas radicais não estariam fazendo campanha por terapias baseadas em evidências.

    Nada impede, entretanto, que eu esteja errado quanto a tudo isso. ;)

    Um grande abraço,
    Psicolóide.

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  10. Qual o problema com o movimento de terapias baseadas em evidências e sua relação com os anti-realistas?

    Agora quando ao cognitivismo e o behaviorismo serem igualados como ficções teóricas a meu ver é um erro. É só acompanhar a história de como Skinner chegou ao conceito de operante, e de como os cognitivistas chegaram a seus conceitos.

    Skinner não pressupôs processos subjacentes ao comportamento, mas descreveu o que via e media com seus aparelhos.

    Os conceitos de Skinner foram desenvolvidos da observação de relações entre variáveis observáveis, eventos ambientais e respostas observaveis de organismos, mesmo quando ele extrapola os conceitos para eventos mais complexos, a dinamica da explicação não perde a ligação com os eventos observáveis.

    Comparar o Behaviorismo ao Cognitivismo é o mesmo que comparar a teoria da Evolução de Darwin por Seleção Natural, com o Criacionismo.

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  11. "Qual o problema com o movimento de terapias baseadas em evidências e sua relação com os anti-realistas?"

    Tudo a favor de terapias embasadas em um corpo teórico sólido e admitido pela comunidade acadêmica. Agora, evidência por evidência, as neurociências cognitivas não deixam nada a desejar. Ao menos não para a comunidade científica que tem legitimado suas práticas em detrimento de várias outras práticas psicológicas (inclusiva a AC).

    "Skinner não pressupôs processos subjacentes ao comportamento, mas descreveu o que via e media com seus aparelhos."

    O fato dele não ter pressuposto processos subjacentes ao comportamento não o torna menos ou mais científico do que outras teorias que supõem processos subjacentes ao comportamento. A rigor, os processos cognitivos são tão observáveis quanto os comportamentos definidos por Skinner e respondem tão bem aos experimentos e instrumentos dos cognitivistas quanto a AEC responde aos behavioristas radicais.

    Acredito que aqui aparece nossa discordância, isto é, na definição do que seja ciência. E é justamente por haver diferentes concepções acerca da natureza da ciência, que uma proposta como a de banir terapias sem "comprovação científica" me parece ser completamente anti-democrática.

    Abraço.

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  12. Psicolóide:

    Acho que nossa concepção do que venha a ser "realismo" seja um tanto quanto diferente.
    Realismo para mim é pressupor um processo Real que explique todo o funcionamento de um mecanismo, esse processo necessariamente tem que existir (Mesmo que em um universo paralelo, como é o caso dos constructos cognitivos). O Realismo também pressupoem dois mundo um real (inacessível pela observação, de nossos "sentidos deterpados") e um fenomenal, sujeito a todo tipo de interpretação e contradições. Para o realista o REAL explica o Fenomenal.

    O Realismo traz ainda uma espécie de mecanicismo em suas explicações (principalmente em ciência), o Real explica causalmente o Fenomenal.

    Enst Mach um pensador do sec XIX vem questionar esse modelo Realista e Mecanico propondo que na verdade as teorias são apenas descrições, que tem "Níveis de Valoração" de Verdade, e o que vai determinar isso é a economia de conceitos que o sujeito usa para controlar e se adaptar a seu meio (Inspirado em Darwin).

    Mach foi um amigo de Willian James grande autor da escola que foi conhecida por Pragmatismo, e grande influenciador das idéias de B. F. Skinner.

    O modelo pragmatista é anti-realista e substitui o mecanicismo pelo Contextualismo (Como na teoria da Evolução por Seleção Natural).

    Não temos a pretensão de verdade absoluta, mas apenas de verdade transitória e operacional.

    Agora sobre a segunda parte do seu comentário (a parte sobre as terapias baseadas em evidências) eu concordo com você Epistemológicamente, mas não posso concordar com você como propenso usuário de Psicoterapias, como cidadão e como profissional.

    A prática e os resultados são muito mais importantes que questões teóricas. Para mim, e isso em nível epistemico os resultados de uma pratica baseada em determinada teoria podem fortalece-la ou enfraquece-la, numa escala de valoração de "Mais Verdadeira" e "Menos Verdadeira".

    Tanto as terapias Cognitivo-Comportamentais, quanto as Comportamentais vem obtido um sucesso louvável em se tratando de prática, mas devemos buscar uma medição mais precisa para sempre aperfeiçoarmos nossa prática e assim, oferecer cada vez mais um serviço confiável e de qualidade para as pessoas e a sociedade.

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  13. Interessante para enriquecer o debate!

    http://www.fallacyfiles.org/taxonomy.html

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