Nasci como todos nascem concebido de um homem e uma mulher, que doaram seus gametas y e x que se juntaram para formar uma “célula ovo”.
Este que se dividiu inúmeras vezes, passando por embrião, feto dentro do útero desta que foi minha progenitora parasitando nutrientes de seu corpo até o momento de meu nascimento.
Este que se dividiu inúmeras vezes, passando por embrião, feto dentro do útero desta que foi minha progenitora parasitando nutrientes de seu corpo até o momento de meu nascimento.
Saindo deste útero entrei em contato com uma família, um grupo de pessoas que exerceram e exercem inúmeras funções em minha vida, sendo a minha primeira agencia de controle (detinham os meus primeiros reforçadores, e recursos necessários para minha sobrevivência por pelo menor 14 anos após meu nascimento), e minha primeira comunidade verbal.
Eles foram quem reforçaram minhas primeiras respostas operantes, minhas primeiras verbalizações, e deles copiei diversos modelos para minha sobrevivência. Mas nem todo operante reforçado ou modelo é adaptativo, e acabei aprendendo deste modo o que vou chamar aqui de comportamento religioso.
Como podem ver, criança nenhuma nasce cristã, judia, muçulmana, viking, adoradora de espaguete, etc.
Neste blog tem uma série em videos do brilhante biólogo Richard Dawkins sobre esse tema:
A religião então pode ser entendida como uma prática cultural que a muito tempo vem sobrevivendo, mas que não necessariamente seja adaptativa para a cultura, ou seja, provenha coisas boas para a cultura (muito pelo contrário do meu ponto de vista esta é uma das práticas culturais mais nocivas que existem tendo produzido inúmeras guerras, xenofobia, discriminação, escravidão, tortura, mutilação, dentre outras).
Dentre alguns fatores que reforçam esta prática está o fato de por sermos animais sociais, ao nascermos como já mencionei na minha história, tendemos a copiar e confiar em tudo que nossa primeira comunidade verbal (família) nos ensina.
Este repertório desde então é reforçado por comunidades verbais mais amplas e agencias de controle organizadas para o fortalecimento deste, como igrejas, parentes, amigos, correntes de e-mail, etc...
E mais, quando o nosso repertório de orar e clamar a deus está instalado, eles nos ensinam a interpretar eventos aleatórios e naturais, como “obra divina”, desde então qualquer “sinal”, ou seja, evento que fomos ensinados a entendermos como sinal é um reforçador para a prática social de religiosa. Vê-se ai um incentivo, do que é chamado pela analise do comportamento de contigüidade (comportamento supersticioso) que já falei neste
Ou seja, a fé não é nem um pouco racional, é só ver as inúmeras discussões fervorosas de crentes e ateus em blogs, estude os argumentos dos crentes, aqui tem uns exemplos: blog
Existem argumentos ateístas desde a antiguidade, mas eles nem ao menos são considerados pelos crentes, pois como já mencionei, o que mantém seu comportamento é algo “não racional”.
Veja este exemplo de Epicuro e seu famoso paradoxo deus:
"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, do mesmo modo é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não os impede?"
Para entendermos esse paradoxo é claro a necessidade de repertório verbal sofisticado, chamado “lógica” ou “racionalidade”, nossos sistemas de ensino não instalam muitas vezes esse tipo de repertório em nós, muitas vezes por influência política (é mais fácil manipular gado que leões). Muito pelo contrário, nos ensinam a apenas aprender por modelação (o professor passa a matéria, o aluno aceita aquele dado pronto, o professor corrige o desvio e reforça aquele que mais se assemelhar a seu modelo), isso é muito parecido com a prática religiosa em que o catequista ensina a “verdade” os catequizados dizem amém, reproduzem aquele conteúdo e o catequista os reforça. Padrão este de ensino herdado da Escolástica, e que infelizmente ainda sobrevive em nossas escolas do século XXI.
Só o argumento acima já invalidaria se todos fosse “processadores” racionais de informação, como já dizia Descartes e alguns psicólogos modernos.
Mas como sai daquele esquema fadado a me transformar em um crente, e não conhecer as maravilhas da filosofia, ciência etc?
Não foram por mérito meu, ou de alguma essência interna, mas, algumas contingências aleatórias modelaram alguns repertórios de fuga/esquiva na minha infância para a leitura de livros e enciclopédias, paralelo ao religioso estava sendo criado o repertório embrionário do cientista.
E graças a deus....rsrs (isso é um eufemismo), através de meu repertório rudimentar de questionamento, exploração e lógica, passei a interpretar os textos sagrados de forma cientifica e não de forma copiadora, e a achar as tais inconsistências inegáveis neles. Explorei então diversas religiões e práticas exotéricas tentando encontrar meu caminho, até ingressar na faculdade de psicologia.
Nesta ao ver inúmeras teorias de funcionamento humano, consegui finalmente me desprender daquilo que era e é de muitos seres humanos um calcanhar de Aquiles: A Religião.
Não é um caminho fácil, mas é fascinante, a minha perspectiva de ver o mundo e a vida como ateísta em primeiros momentos foi difícil e sofrida, não vou negar, olhar o mundo sem o “véu da ideologia” parafraseando Marx é dolorido num primeiro momento assim como alguém que estava a muito no escuro passa a ver a luz do sol. Os olhos doem, mudar seu repertório doem analogamente.
Espero que esse texto ajude quem ainda não “saiu do armário” do Ateísmo, ou não tem coragem, saiba, vc não está sozinho!.
Pra terminar uma musica linda e Atéia:
Cara, outro dia minha mãe me mostrou um caderno onde ele fazia anotações sobre o meu desenvolvimento (coisa de pedagogos). Em uma das páginas ela escreveu sobre minha pergunta sobre o pós-morte, bem como sua respectiva resposta, que foi mais ou menos a seguinte: "Vamos para o céu, ficamos perto de Deus e de quem já morreu". Então ela comenta que minha expressão foi de desconfiança e insatisfação. Tudo bem: tornei-me ateu efetivamente apenas no final da minha adolescência. Antes disso eu me crismei e fui à missa diversas vezes -- embora sempre me questionando daquelas práticas e ideias religiosas. Pergunto-me, hoje, sobre quais variáveis desenvolvimentais influenciam a probabilidade de que, quando madura, uma pessoa possa se posicionar ceticamente diante desse ponto. Minha orientadora apontou a inteligência como sendo uma das principais variáveis (justificando o aumento vertiginoso de ateus de algumas décadas para cá confluentemente ao aumento médio da inteligência mundial -- efeito Flynn). Talvez o repertório racional de que você tratou esteja embutido aí. Mas também me pergunto sobre se o tipo de relação parental não afeta de alguma forma o nível de aderência à ideologia religiosa (p. ex., a confiança nos e a lealdade aos parentes poderiam estar envolvidos). Acho que pesquisas tocando esses pontos seriam bem-vindas.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Um abraço.
Obrigado Daniel,
ResponderExcluirseu comentário é muito pertinente.
Com certeza as unidades básicas disso que você chama de inteligência, são provavelmente aquilo que nos fizeram "escolher" o ateísmo.
A unica diferença é que não as considero fatores desenvolvimentais e sim comportamentos operantes, de 2ª Ordem, com vários níveis de observação (entre privado e publico), de complexidade (filogenéticos, ontogenéticos, culturais), discriminados, equivalentes, etc...
Quando a pesquisa seria muito bacana, tipo uma correlação estatística. Tenho um palpite, acho que a correlação seria altíssima.
Abraço.
Já ouvi dizer que já há pesquisas nesse nicho, e que os ateus seriam em média mais inteligentes (não me recordo quantos pontos de QI acima dos crentes). Vou procurar uma pesquisa desse estilo depois e publicar algo a respeito.
ResponderExcluirUm abraço.
Interessante o texto!
ResponderExcluirMarcos e Daniel, eu li há uns meses atrás um estudo interessante que não avaliava exatamente os níveis de inteligência, mas ,na minha interpretação, explorava alguns "indicadores indiretos" por assim dizer. Dêem uma olhada:
http://scan.oxfordjournals.org/content/early/2010/03/12/scan.nsq023
A região cerebral que eles identificaram a falta de ativação se relaciona com o ceticismo, falando de forma simplificada.
um abraço
Achar o correlato cerebral é importante, mas não é o mesmo que dizer que esse correlato, (ou unidade de uma função maior) seja o iniciador daquela comportamento.
ResponderExcluirCreio que tudo o que a Neurociência venha a descobrir são peças de uma quebra-cabeça maior chamado comportamento humano. Peças essas que funcionam em relação e não como unidades de processamento ou de iniciação.
A inteligência não é só algo que está no cérebro, ou algo que a pessoa faz, mas a relação desta com um mundo complexo, tendo sido selecionado (essa relação) por seu valor adaptativo e competitivo frente a outras relações (sejam elas outros comportamentos do próprio individuo, sejam elas de outros organismos).
Assim como o ceticismo não pode ser definido como algo acontecendo no cérebro, mas uma relação deste organismo como um todo (isso inclui o cérebro) e seu contexto (antecedente, consequente, equivalente, etc.)
ResponderExcluirÉ o mesmo que definir chuva pela água, fogo pelo calor, ou circulação por coração, ou artéria/veia.
ResponderExcluirOu obra de arte pelo material usado.