quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Complexidade e evolução fenomênica.

Reações químicas em um oceano pré-histórico deram origem a moléculas que eram capazes de se replicar, a partir daí deu-se inicio ao processo denominado seleção natural.  Ou seja, de um nível de fenômeno químico, surgiu um fenômeno completamente novo, o biológico.

De processos eletroquimicos intensos ocorridos no jovem planeta Terra, surgiram moléculas que podiam fazer cópias de si mesmas os "replicantes"









Somos todos organismos humanos, oriundos de um processo de relações entre organismos mais simples e seus ambientes, em que esse ambiente selecionou características mais adaptativas destes organismos.




Dentre essas características anatomo-fisiológicas selecionadas incluía uma predisposição a agir sempre de uma forma em determinados contextos ambientais, e a capacidade de “aprender” que em situações colocadas próximas a aquele contexto podemos também nos comportar daquela forma. Sob uma linguagem comportamental, os estímulos antecedentes passaram a controlar o nosso responder e também estímulos que inicialmente não controlavam esse responder passam a controlar se correlacionamos eles com os primeiros.  Este é o comportamento respondente.




O comportamento respondente foi selecionado, pois organismos que o possuíam se adaptavam melhor a ambientes que mudavam em um período mais rápido, do que a sucessão de gerações de uma espécie.
Outra característica selecionada foi o a predisposição a eventos conseqüentes ao responder controlarem a probabilidade desse mesmo responder que acontece em um determinado contexto. Esses eventos conseqüentes em um primeiro momento são substancias e eventos necessário para a sobrevivência do organismo, como água, comida, sexo, etc, mas por serem estímulos também podem ser correlacionados a outros eventos, e esses também passam a ter uma valor de consequenciador (Carinho, dinheiro, palavras, símbolos, etc.) Este é o chamado comportamento operante.




As conseqüências do responder passaram a modular o este responder, assim como o contexto antecedente ganhou propriedades de sinalizá-lo.
De um nível fenomênico biológico, de relações simples de variação aleatória em relação com um ambiente que selecionava indivíduos de uma espécie, surgiu outro fenômeno novo que demandou uma ciência nova: o comportamento.
O Comportamento é a relação do organismo inteiro (não só seu cérebro como alguns dizem hoje em dia) com seu mundo. Esse organismo se comporta (ou se relaciona) modificando o seu mundo, e sendo modificado por ele.
Mas as vezes o organismo age indiretamente sobre o mundo, ou em outras palavras, ele age em outros organismos, para que esses modifiquem o mundo. No que chamamos de contingências entrelaçadas, o principio do comportamento social.
Uma parte desse tipo de comportamento operante entrelaçado é especial em nossa espécie, pois possibilitou o surgimento de culturas.  Esse comportamento é o comportamento verbal.
As culturas são formadas por práticas culturais, ou seja, relações de um grupo com seu meio que são selecionadas por suas conseqüências. Essas relações grupais são compostas de comportamentos entrelaçados, mas não se limitam ao fenômeno comportamental, elas em si são outro nível de fenômeno demandando uma nova ciência, a Análise de Culturas.



Para que a evolução ocorra é necessário que existam:

1)     1) Enorme variação por replicação imperfeita, ou seja, uma unidade que se autocopie de forma a produzir “erros” ou variações,
2)      2) De um ambiente que selecione, extinga ou mantenha tais variações e
3)      3) De uma unidade de retenção.

No nível filogenético elas são:

1)      1) Reprodução sexual ou assexuada,
2)      2) Seleção Natural de caracteres anatomo-fisiológicos mais “adaptativos”.
3)      3) Os Genes (Como moléculas químicas)

No nível ontogenético (ou comportamental)

1)      1) Variação por variáveis nunca semelhantes,
2)      2) Reforçamento, extinção, etc.
3)      3) Sistema Nervoso (Como sistema biológico).

No nível cultural:

1)      1) Variáveis nunca iguais.
2)      2) Produto agregado, Reforçamento Cultural.
3)     3)Comportamento Operante de organismos individuais, produto de comportamento verbal como livros, filmes, etc (Em nível comportamental).  

É possível concluir que todo evento cultural é comportamental, biológico e químico (físico também, pois moléculas químicas nada mais são do que partículas físicas, “átomos” agrupadas de determinada forma). Mas que este não pode ser reduzido a nenhum deles na hora de explicar sua ocorrência.
Ex: Não dá pra explicar a homossexualidade reduzindo-a a apenas um comportamento unicamente aprendido ontogenéticamente por reforçamento e extinção, assim como não dá pra dizer que exista um gene para ela, ou mesmo uma explicação atômica para a mesma.
A homossexualidade existe como predisposição genética (Animais copulam entre os mesmos sexos), como comportamento modelado por conseqüências (as conseqüências de comportamentos homoafetivos podem ser reforçadoras ou punidoras) e mais importante que isso a homossexualidade é uma pratica cultural, pois demanda mais de um organismo para acontecer, e possui um significado diferente de época e locais históricos diferentes.
Assim como é impossível explicar uma greve, revolução ou guerra, baseando-se unicamente no comportamento individual de cada sujeito, ou mesmo em características físico-quimicas da espécie, como um “gene da agressividade”, ou “disfunção neuronal”.
Existem sim fenômenos mais simples, que podem se encaixar apenas no primeiro nível como o espirrar frente a pimenta, o salivar frente ao alimento.
Mas a maioria dos fenômenos relacionais envolve em organismos complexos pelo menos os dois primeiros níveis, e em organismos humanos é impossível pensar em uma analise que desconsidere a cultura.  
O Analista do comportamento não deve se limitar somente ao segundo nível de seleção, ou ontogenético, que domina graças aos brilhantes avanços da Análise Experimental do Comportamento, mas deve compreender seu fenômeno em um escopo maior, indo até conhecimento biológicos (neurociência, etologia, analise etoexperimental do comportamento), a fenômenos culturais e sistêmicos estudados pela Antropologia, Sociologia, Economia, etc.
Variemos para podermos ser selecionados como prática cultural!

Obs: Evolução fenomenica foi um termo que ouvi da professora Maria Amalia P. A. Andery na ultima ABPMC, e estou tomando a licença para usa-lo.

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